COVID-19 e disfunção neurológica

21-12-2022

O SARS-CoV-2, o vírus que causa a COVID-19, pode em raros casos infectar os neurónios. Embora os sintomas de uma infecção por COVID-19 variem amplamente de um indivíduo para outro, casos graves de infecção podem ter um impacto significativo no cérebro. Num estudo publicado na revista Nature Communications, um grupo de investigadores descreve como a infecção afectou um grupo de 40 pacientes, usando tomografias computadorizadas, ressonâncias magnéticas e amostras de plasma e líquido cefalorraquidiano (LCR), comparando-os com um grupo de controlo. O estudo revelou que o chamado “neuro-COVID” pode danificar a barreira hematoencefálica, provocar perturbações imunológicas no cérebro e levar a alterações na estrutura cerebral, convulsões, coma ou até morte.

A COVID-19 é conhecida por afectar o sistema nervoso; a perda de paladar e olfato foram sintomas comuns nas infecções com a estirpe original do SARS-CoV-2. Neste estudo, os pacientes apresentavam uma variedade de sintomas neurológicos, como cefaleias e tonturas nos casos mais leves, neuropatia periférica aguda e miopatia nos casos mais graves e acidente vascular cerebral, coma ou hemorragia intracraniana nos casos graves.

Os investigadores descobriram que no grupo com os sintomas neurológicos mais graves, houve uma resposta imune excessiva.

Em caso de doença, processos inflamatórios desencadeados pelo sistema imunológico contribuem para a recuperação, seja de uma ferida ou de uma infecção. Mas essa inflamação, se não for devidamente controlada, pode despoletar reacções adversas.

Os pacientes gravemente afectados apresentavam danos nas suas barreiras hematoencefálicas, sugerindo os autores que estes resultavam não do vírus em si, mas sim de uma síndrome de libertação de citocinas, também denominada de tempestade de citocinas, na qual se observa uma liberação excessiva de sinais inflamatórios em resposta ao vírus. Esses pacientes também tinham autoanticorpos, que segundo os autores teriam atravessado a barreira hematoencefálica, causando danos no cérebro.

Este trabalho também revelou que as células imunes do cérebro, chamadas microglia, provocavam a excessiva activação imune. Os pacientes com neuro-COVID mais grave também apresentavam menor volume cerebral nalgumas regiões, como o córtex olfativo, que controla o olfato.

Os autores identificaram ainda uma assinatura molecular no sangue e no LCR que indicava uma forte resposta imune no cérebro, podendo esses biomarcadores ser um dia ser usados para prever quem desenvolverá casos mais graves de COVID-19, neuro-COVID ou COVID longo, na fase inicial da infecção.
Os autores do estudo observaram finalmente que esses biomarcadores também são potenciais alvos para tratamento da COVID-19. A molécula MCP-3, por exemplo, que desempenha um papel central na resposta imune excessiva, podia ser inibida. Acrescentam os autores que a prevenção de uma resposta imune hiperativa na fase inicial da infecção, devia ser prioritária.