Obesidade e risco de cancro

19/10/2023

Influência da obesidade no risco de cancro – Impacto diferente nos homens e nas mulheres

A obesidade, doença crónica caracterizada pelo excesso de gordura acumulada no organismo. Nos adultos, a doença está associada ao desenvolvimento de:

– Doenças respiratórias: apneia obstrutiva do sono; aumento das complicações associadas às infeções virais como a gripe e COVID19.
– Diabetes tipo 2.
– Doenças cardiovasculares – Acidente Vascular Cerebral (AVC); insuficiência cardíaca; aumento do colesterol e triglicéridos (dislipidemia); hipertensão arterial, fibrilação auricular, trombose venosa.
– Fígado gordo (esteatose hepática).
– Doença renal: doença renal crónica, pedra nos rins (litíase renal), incontinência urinária.
– Doenças gastrointestinais: refluxo, esofagite.
– Infertilidade.
– Doenças musculoesqueléticas: osteoartrite e gota.
– Doenças oncológicas: desenvolvimento de cancro, por exemplo, da mama, colorretal ou do pâncreas, entre outros.
– Alterações psicológicas e neurodegenerativas

Grande parte dos trabalhos que associam obesidade e cancro provém de estudos observacionais, que não permitem demonstrar inequivocamente que a obesidade provoca cancro. Isso pode ser em parte explicado, pelo facto de indivíduos obesos apresentarem geralmente outras similaridades além da gordura corporal elevada. Isto significa que, além do peso corporal, os indivíduos obesos e não obesos diferem de várias maneiras, incluindo altas taxas de comorbidades, como diabetes, ou estilos de vida divergentes, como baixos níveis de actividade física.

Evidências científicas sugerem que a obesidade aumenta o risco de pelo menos 13 tipos de cancro, incluindo cancro do endométrio, fígado, rim, pâncreas, colorrectal e da mama.

A classificação geral da obesidade baseada no índice de massa corporal (IMC), calculado a partir da altura e do peso, tem sido criticada por não ter em conta o peso muscular ou a distribuição da gordura corporal pelo corpo. Com base nesta definição demasiado simplista, dois indivíduos com o mesmo IMC podem ter diferentes quantidades de gordura.

A distribuição de gordura difere entre homens e mulheres, e a genética desempenha um papel nas diferenças observadas entre os sexos. Por exemplo, as mutações genéticas associadas à distribuição de gordura nas pernas e no tronco são mais pronunciadas nas mulheres do que nos homens.

Um estudo publicado na Cancer Cell procurou determinar se as diferenças na distribuição da gordura corporal entre homens e mulheres poderiam influenciar o risco de cancro. Os investigadores usaram dados do Biobanco do Reino Unido (UK Biobank), um vasto banco de dados com informação genética e de saúde dos participantes. O presente estudo avaliou dados de 442.519 pacientes para 19 localizações de cancro. Este estudo prospectivo analisou o risco de desenvolver cancro com base nas características relacionadas com obesidade. O tempo de acompanhamento dos participantes ultrapassou os 13 anos.

Os autores consideraram 14 factores designados de “indicadores de adiposidade”. Esses factores descrevem características fenotípicas relacionadas com obesidade, incluindo gordura abdominal, tamanho da cintura e massa gorda nas pernas, corpo, tronco e braços.

O estudo revelou que a maioria dos tipos de cancro avaliados estavam associados a indicadores de adiposidade. Os autores também reportaram que o excesso e a distribuição de gordura induzem efeitos diferentes nos homens e nas mulheres em três tipos de cancro: colorrectal, esofágico e hepático. Para estes tipos de cancro, os efeitos da obesidade pareciam mais marcados nos homens do que nas mulheres.

Este estudo fornece uma visão abrangente de como o excesso e a distribuição de gordura influenciam o risco de desenvolver vários tipos de cancro. Embora o estudo mostre que muitas indicadores de adiposidade influenciam o risco de cancro nos homens e nas mulheres, as diferenças mais substanciais parecem resultar do excesso de gordura.

A identificação da adiposidade como factor de risco, consistente com resultados de trabalhos anteriores, com efeitos heterogéneos entre os sexos, reforça a ideia que a avaliação de risco deve ser realizada de modo distinto na mulher e no homem.